sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Berlin e suas Artes não Encomendadas.

No primeiro momento que visualizei minha ida a Berlin, já tinha em mente o que eu NÃO queria ver, eu não queria ver as famosas galerias de artes e museus dedicados a artistas mundialmente famosos. Estava determinado a conhecer uma  outra Berlin, aquela que não aparece nos guias de turismo, procurava algo que já havia ouvido falar em debates com amigos artistas na Universidade, estava a procura da arte marginal que ocupa espaços sem avisar e invade prédios se espalha pelos muros da rua e rola pelo chão.
 Os conhecidos Squatter (ocupação de edifícios abandonados) se multiplicaram por Berlin no final do anos 80, no momento em que a capital se encontrava na transição entre uma cidade divida e recém unificada e tiveram seu ápice no anos 90 quando a poeira já começava a baixar.  Artistas e “sem tetos” co-habitavam os mesmos edifícios, dividiam as mesmas realidades, o resultado desta união foram ateliers livres e espaços culturais alternativos onde muitos movimentos que contestavam e contestam as mazelas da sociedade tiveram o seu berço.
Com o passar dos anos a especulação imobiliária foi recuperando a sua força e passou a perseguir com todo o aparato do governo os habitantes destes centros culturais, chegando as vias de fato da utilização da força em ações de desapropriações violentas. Muitos espaços de produção cultural e moradia se perderam e ano após ano mais pessoas ficam sem ter onde morar e produzir.  O valor social de lugares como esse deveria ser mais valorizado pelo estado, tendo em vista que o mesmo não consegue dar conta de suprir com as necessidades básicas e os direitos de todos os habitantes da cidade.
E hoje um dos últimos squarters remanescentes ainda encontra ar em seus pulmões para gritar por meio da arte que sempre lhe foi característico, Exposições com instalações, colagens e fotografias, grupos de teatro e ateliers abertos compõem o cenário e evidenciam que ali naquele prédio existe vida criativa, e que não vai se entregar tão fácil. Os artistas recolhem assinaturas para que evitar que um Banco construa ali mais uma das suas muitas agências no centro da cidade.
É uma batalha que muito me lembra os tempos da Ocupação de um dos auditórios da UFES para moradia estudantil, a movimentação cultural era o que bombeava o sangue nas artérias do espaço, mantendo vivo um local com circulação de artistas e estudantes que não tinham a onde morar. Os resultados foram marcantes para toda uma geração, o valor de uma atitude criativa bem direcionada se mostrou eficaz, porém como acontece hoje em Berlin, a especulação imobiliária do campus universitário mostrou toda a sua força e em um feriado de Natal ( não que isso signifique alguma coisa) expulsou, confiscou e destruiu tudo e todos que se encontravam no auditório abandonado.
Hoje vejo um paralelo entre ocupações em Vitória, Berlin, São Paulo ou em qualquer outro lugar do mundo, a arte não “encomendada” perde o seu espaço de acordo com os interesses financeiros e as pessoas e suas histórias de vida são simplesmente atropeladas durante o processo. Com tudo ainda vejo uma Fogueira acesa, e o calor do fogo aquece o coração daqueles que sabem a importância arte engajada na construção de uma sociedade mais justa.
......
Editei um video com imagens que fiz no Squatter que conheci e das impressões Gerais que tive desta magnifica cidade.

Link para o Video no youtube: http://youtu.be/ihhiZXfUZBg

2 comentários:

  1. Sim Thiago, bacana esse seu olhar atento para as possibilidades humanas de reinventar a vida.
    Continue antenado com toda esta sua sensibilidade e traga-nos novos registros.

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  2. Thiago torço para que voce continue a produzir arte e vida. Não tem como dissociar a arte da vida que pulsa nas cidades.

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